“Então responderam diante do rei: Daniel, que é
dos transportados de Judá, não tem feito caso de ti, ó rei, nem do interdito
que assinaste, antes três vezes por dia faz a sua oração. Ouvindo então o rei o
negócio, ficou muito penalizado, e a favor de Daniel propôs no coração
livrá-lo, e até ao pôr do sol trabalhou para salvá-lo. [...] Então o rei ordenou que
trouxessem a Daniel, e o lançassem na cova dos leões. Disse o rei a Daniel: O
teu Deus, a quem tu continuamente serves, ele te livrará. Foi trazida uma pedra
e posta sobre a boca da cova, e o rei a selou com o seu anel e com o anel dos
seus grandes, para que não se mudasse a situação de Daniel. Então o rei se
dirigiu ao seu palácio, e passou a noite em jejum, e não deixou trazer à sua
presença instrumentos de música. E fugiu dele o sono”. (Dn 6:13-18)
O rei Dario sabia que Daniel era inocente.
Tanto sabia, que quando lhe foi revelado que Daniel havia cometido o grave
delito de orar três vezes ao dia, e por isso deveria ser lançado na cova dos
leões, o rei só faltou arrancar os cabelos e dizer: - Onde é que eu estava com
a cabeça quando assinei esse decreto maluco? Logo Daniel! O homem mais honesto,
mais fiel, mais íntegro em todo o meu império!
É... Na verdade o rei Dario admirava muito a
Daniel e sabia que não encontraria alguém igual a ele. Sabia muito bem que os
seus políticos é que não mereciam confiança. Se facilitasse um pouco, seriam
capazes de empurrar o próprio rei na cova dos leões! Mas, agora, o que fazer? O
decreto já estava assinado! Dario estava arrependido de ter se deixado levar
pela vaidade. Mas, só que era tarde! A lei tinha que ser cumprida.
Assim, após o profeta Daniel ter sido jogado na
cova dos leões, o rei Dario e os políticos do império tomaram direções diferentes:
Os políticos foram ao salão de banquetes e se serviram do bom e do melhor,
alegres, felizes pela grande vitória conquistada. Oh! Que alívio! Poderiam
continuar com suas trapaças e desonestidades, pois o parâmetro de fidelidade
estava sendo destruído.
A
incompetência deles não seria mais contestada pela eficiência de Daniel. Enquanto
eles lambiam alguns “ossinhos de javali”, provavelmente imaginavam os leões
também lambendo os últimos ossinhos de Daniel, lá na cova! Só de pensar que não
precisariam mais disputar o poder com Daniel, que maravilha!
Mas o rei Dario, não! Este, não conseguiu comer
nada! Preferiu afastar-se, sentindo o estômago embrulhar! Dispensou os músicos
também! Imagine os músicos do palácio, todos prontinhos para dar o seu espetáculo
diante do rei, mas Dario faz um sinal com a mão e se afasta triste, indisposto,
creio até, que qualquer nota musical que ele ouvisse, faria seus olhos
transbordarem em lágrimas. Lágrimas de remorso!
Enquanto a noite avançava, já no silêncio da madrugada,
o rei Dario perambulava pelos salões do palácio, verdadeiramente angustiado!
Havia condenado um homem bom, honesto, fiel, competente, íntegro. Sabia que
nenhum daqueles políticos que o induziram a condenar Daniel, sim, o rei sabia
que nenhum deles chegava aos pés de Daniel. No entanto, o profeta foi atirado
aos leões para ser devorado!
Sim, não há a menor dúvida que dor de
consciência pesada é terrível, angustiante, arrasadora! A justiça humana
carrega esta culpa: A culpa de condenar inocentes! O rei Dario sabia que Daniel
era inocente, tanto quanto Pilatos sabia que Cristo era inocente! No entanto,
Cristo, mesmo inocente foi levado à crucificação! O rei Dario ficou a noite
toda sem dormir, pois quando fechava os olhos, via os leões famintos estraçalhando
a Daniel! E Pilatos? Quantas bacias de água seriam necessárias para tirar a
culpa de suas mãos?
Qual é a lição que aprendemos deste episódio?
Certamente, é entendermos que há diferença entre arrependimento e sentimento de
culpa. O arrependimento possibilita uma reabilitação enquanto o sentimento de
culpa não muda a situação da pessoa. E por quê? Porque existe o fator chamado
“tempo”. Arrependimento leva a pessoa a decidir: Vou mudar! O sentimento de
culpa leva a pessoa a concluir: Não há mais nada a fazer!
“Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje,
se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações”. (Hb 3:7)
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