“E começou
Noé a cultivar a terra, e plantou uma vinha. Bebeu do vinho, embriagou-se, e se
descobriu no meio de sua tenda. E Cão, pai de Canaã, vendo a nudez de seu pai,
fê-lo saber, fora, a seus dois irmãos. Então Sem e Jafé tomaram uma capa e
puseram-na sobre os ombros, e indo virados para trás, cobriram a nudez do seu
pai, tendo os rostos virados, de maneira que não viram a nudez do seu pai.
Despertando Noé do seu vinho, soube o que seu filho mais moço lhe fizera, e
disse: Maldito seja Canaã! Servo dos servos seja aos seus irmãos. Disse mais:
Bendito seja o Senhor Deus de Sem! Seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a
Jafé; habite ele nas tendas de Sem, e seja-lhe Canaã por servo. Viveu Noé,
depois do dilúvio, trezentos e cinquenta anos. Foram todos os dias de Noé
novecentos e cinquenta anos, e morreu.” (Gn 9:20-29)
Quando lemos este texto sagrado,
à primeira vista, ficamos desconcertados e até sem saber o que de importante,
realmente, aconteceu naquela ocasião e que lições aprendemos daquele episódio.
Ficamos, obviamente, decepcionados com a atitude de Noé. Se bem que, analisando
profundamente, não temos esse direito. Decepção de nossa parte pressupõe que
nos sentimos melhores do que ele, com o direito de censura e tudo o mais. E é
claro que não somos melhores do que Noé!
O fato é que Noé plantou uma
vinha. A primeira vinha que desabrochava numa terra que estava sendo
reconstruída! E quando Noé colheu as uvas, é natural que tivesse a necessidade
de fabricar alguma coisa. E assim, fabricou vinho! Por certo, vinho de
primeira: gostoso, docinho, suculento, vermelhinho, cheiroso! Natural também,
que provasse do vinho. Era fabricação dele! Ele não tinha esse direito? Porém,
Noé ficou tão entusiasmado com a gostosura do seu vinho, que exagerou na prova.
Bebeu além do limite. Estava muito saboroso! Consequentemente, embriagou-se, e
se despiu no meio de sua tenda.
Noé, então, ficou vulnerável,
desprotegido, indefeso e à mercê de seus filhos. E assim, os três filhos de Noé
dividiram-se em dois grupos. O grupo dos prevalecidos, liderados por Cão, e o
grupo dos tolerantes, liderados por Sem e Jafé. E desde então, a sociedade
ficou dividida nesses dois grupos de pessoas. O grupo dos prevalecidos, são
aqueles que gostam de tirar vantagem das fraquezas dos outros. Aliás, já ficam
à espreita, só esperando uma oportunidade. Quando alguém escorrega e cai, eles
saltam em cima para zombar, rir, divertir-se, censurar, expor a pessoa ao
ridículo, chamar mais gente para zombarem juntos, publicar no jornal,
escarnecer, enfim, destruir!
E deste tipo de comportamento o
mundo está cheio! Quando um bêbado sai de seu próprio controle, e começa a
falar demais, cai, canta, anda ziguezagueando pelo caminho, muitas pessoas saem
às janelas para rir, censurar, sacudir a cabeça, enfim, alegrar-se pela
desgraça alheia! Ah! Como a nossa sociedade está repleta dos descendentes de
Cão! Cão, foi o filho que desrespeitou o próprio pai. Quem sabe, riu a valer,
deliciou-se em contemplar a nudez do pai, correu anunciar aos irmãos: Venham
ver! Que engraçado! Ah! Que divertido!
Em nenhum momento pensou em
ajudar, defender, proteger, condoer-se, agasalhar o pai que estava ali,
vulnerável! Ao contrário, aproveitou-se da fragilidade do pai para divertir-se,
zombar e se houvesse imprensa na época, por certo convocaria os repórteres:
Venham tirar umas fotos, vocês vão vender muito! E eu quero uma parte nos
lucros! Isso é prevalecer-se, tripudiar, faltar com o respeito! Infelizmente, é
isso que vemos com frequência! Quantos estão dispostos a ajudar? A sentir pena
das fraquezas dos outros? A estender a mão para ajudar alguém a levantar-se? A
impedir que a reputação de alguém seja manchada?
Leia outra vez o relato bíblico
e veja como foi diferente a atitude de Sem e Jafé. Esses dois representam os
cristãos, hoje! Sim, pois o Senhor Jesus Cristo, a quem amamos, deu-nos o
exemplo de solidariedade e compreensão: Impediu que uma prostituta fosse
apedrejada, hospedou-se na casa de Zaqueu, o cobrador de impostos, alimentou-se
na companhia de pecadores, conversou com a mulher samaritana, que era
desprezada pelos judeus e, finalmente, dirigiu-se à cruz! Não nos condenou, não
nos julgou, não tripudiou sobre as nossas fraquezas, ao contrário, abriu seus braços na cruz, recebeu sobre Si a nossa condenação, e para aqueles que
zombavam dEle, os seguidores de Cão, intercedeu, orando: “Pai, perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem.” (Lc 23:34)
Parabéns pelo texto. Ótimo para reflexão.
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