“Resolveu Daniel firmemente não contaminar-se
com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então pediu ao
chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se.” (Dn 1:8)
Entre todas as qualidades do jovem príncipe
Daniel, a mais importante era a sua fidelidade ao Deus Altíssimo. Daniel era um
jovem judeu, da tribo de Judá - portanto, criado, educado conforme as leis do
Senhor, Deus de Israel. E este jovem teve uma oportunidade para testar a sua
fé, as suas convicções e o seu relacionamento com Deus.
Afinal, será que Daniel era fiel a Deus por ter
sido orientado assim desde pequenino, ou seria fruto de uma fé genuína, de uma
decisão voluntária, de uma convicção fundamentada nas leis do Senhor? Será que
a fé de Daniel dependia de circunstâncias favoráveis? Como reagiria Daniel
diante do primeiro obstáculo? Será que esse jovem amava realmente a Deus, por
convicção própria, por uma manifestação de fé espontânea?
Essa resposta nós encontramos no registro
sagrado, quando afirma: “Resolveu Daniel firmemente não se contaminar...” Por
que esse jovem recusou as finas iguarias do rei e o vinho que ele bebia?
Resposta: Porque era costume dos reis pagãos consagrar os alimentos aos seus
“deuses”. Daniel não poderia de forma alguma ingerir alimentos contaminados.
Essa contaminação era de ordem espiritual! Assim, o jovem judeu pediu ao chefe
dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar.
Agora, preste atenção: Daniel estava sendo
pressionado a tomar essa decisão? Por acaso ele estava sendo vigiado? Seus pais
estavam ali, ao lado dele, cobrando uma atitude de fé? E os sacerdotes judeus,
onde estavam? Então não havia nenhum sacerdote por perto? Mas e que tal se
algum “pastor evangélico” aparecesse ali, apontando o dedo acusatório para
Daniel e dizendo: “Cuidado que você pode ser excluído!” Ou ainda, o papa
poderia ameaçar Daniel de ser excomungado!
Enfim, Daniel, se quisesse, se ele tivesse uma
fé medíocre, se a religiosidade dele se amparasse em conceitos humanos, poderia
se esbaldar em dissoluções, sem ter que prestar contas a ninguém! Ninguém
estava vendo nada! Dissoluções sim, porque aqueles banquetes terminavam em
bebedeiras e orgias sexuais! Daniel poderia até se desculpar, dizendo:
“Coitadinho de mim! Prisioneiro aqui neste país distante! Preciso mesmo é
aproveitar esta chance que o rei me dá e me deleitar com essas coisas!”
Entretanto, sem necessidade alguma de
fiscalização, o nosso jovem provou amar ao Deus Altíssimo e o fez por sua
própria decisão. Daniel propôs em seu coração não se contaminar! E os cristãos,
hoje? E a juventude cristã, hoje, como procede? E as igrejas, chamadas cristãs,
como se acham no direito de fiscalizar o comportamento de seus fiéis! É
exclusão daqui, excomungação de lá, assembleia disciplinar por este motivo,
decisão da comunidade por aquela razão!
E assim, na maioria das vezes, se um cristão
evita praticar certos atos, é por puro medo, por pavor, porque pode ser
rejeitado e, em outras épocas, até apedrejado! Pergunto: “Que valor tem isso tudo
para Deus?” Se uma pessoa propõe em seu coração não se contaminar, como fez
Daniel, isto não é razão para deixar o líder de sua igreja tranquilo? Isso não
é prova de que esta atitude é resultado único e exclusivo de uma fé sincera e
verdadeira e que independe de qualquer forma de obrigatoriedade?
Então, se alguém “só anda nos eixos” na base de
ameaças e fiscalização, trate de pregar o evangelho para essa pessoa, porque
ela ainda não se converteu, não foi regenerada, não tem nova vida, a divina
semente ainda não brotou nesse coração, a fé ainda não raiou e o poder do
pecado não se dissipou! Fazer brotar fé na base de regulamentos e medidas
disciplinares pode ter algum valor para os líderes religiosos, mas, certamente,
não tem valor algum para Deus!
Deus olha e conhece o coração! Cristo convida,
mas não obriga! Quando um cristão segue a Cristo, ele o faz de coração, não por
obrigação! Se as instituições religiosas se preocupassem em ensinar mais as
Escrituras, descobririam que é a Palavra de Deus que regenera, não os
regulamentos que elas estabelecem!
“Vem.
Aquele que ouve diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de
graça a água da vida.” (Ap 22:17)
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